População idosa do Brasil enfrenta desafios para acompanhar as novas tecnologias

População idosa do Brasil enfrenta desafios para acompanhar as novas tecnologias

Apenas 31,1% da população idosa do país utiliza internet em 2024, o envelhecimento populacional é uma conquista que demanda adaptação.

Por Jeiny Schitine e Maria Luísa Berto

A plataformização da vida avança transformando atividades cotidianas como o trabalho, o lazer e o acesso a serviços básicos, porém, evidencia um desafio urgente: a inclusão digital dos idosos. Barreiras como altos índices de analfabetismo, falta de letramento digital, desinformação e dificuldades econômicas no acesso a tecnologias reforçam a necessidade de estratégias inclusivas para integrar essa crescente parcela da população ao mundo digital.

A proporção de idosos no Brasil duplicou entre os anos 2000 e 2023, de acordo com o recente censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população conta com 33 milhões de idosos. A tendência é o Brasil ter cada vez menos jovens e cada vez mais idosos.

Dona Ivoni Maria Victor de 72 anos conta das dificuldades que têm em utilizar o celular para coisas básicas como fazer um pix. “O celular não é da nossa época, a minha época é do orelhão. A gente tem dificuldade de mexer no celular, tem gente que não sabe fazer um pix, e isso faz muita falta”.

Com o envelhecimento populacional, as pessoas da terceira idade utilizam, especialmente, celulares com acesso às redes sociais. Apesar do crescimento, apenas 31,1% deste grupo utiliza a internet. Em um mundo globalizado e com inovações tecnológicas surgindo a cada momento, não estar conectado pode significar exclusão do mundo digital e isolamento social.

Há quase 30 anos professoras do departamento de serviço social da Universidade Federal do Espírito Santo identificaram o envelhecimento populacional e a falta de atividades voltadas para as pessoas idosas. Desde então, o Núcleo de Estudos e Assessoramento à Pessoa Idosa fundou a Universidade Aberta à Pessoa Idosa (UnAPI), para atuar na inclusão social deste grupo.

Monique Cordeiro, coordenadora da Unapi, disse que perceberam o gradual envelhecimento da população e que é preciso integrar os idosos na sociedade. Nesse caso, com a aceleração do uso da tecnologia, a Unapi criou um curso para ensinar a mexer no celular, o Smart Idosos.“Muitas vezes eles são excluídos, inclusive socialmente por não terem acessibilidade digital. Hoje em dia, marcar consultas no próprio SUS é por aplicativo, pelo celular, então a gente viu essa necessidade de promover a inclusão digital para pessoas idosas e criamos o Smart Idosos”.

Um estudo realizado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), em 2022, constatou que o Espírito Santo ocupa o 6º lugar no ranking nacional de envelhecimento da população. O percentual representa uma média acima se comparado aos outros estados da federação, somando 58,12% para 55,24% do índice nacional.

Na análise da Região Metropolitana da Grande Vitória, a capital é o município com o maior percentual de idosos (20,07%), seguido por Fundão (19,05%) e Guarapari (17,45%).

Capacitação e Inclusão

Em Vitória, Espírito Santo, existem iniciativas de capacitação tecnológica para idosos, como ferramenta de autonomia e interação social. Um destaque é o programa Navegando na Internet na Melhor Idade, realizado pelo Instituto de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Espírito Santo (Prodest) em parceria com a Secretaria de Gestão e Recursos Humanos (Seger).

Desde 2001, mais de 4 mil pessoas com 50 anos ou mais já participaram do programa, que oferece aulas gratuitas sobre o uso de computadores, smartphones e recursos online. O objetivo é facilitar o acesso às tecnologias para atividades cotidianas, como pagamento de contas, navegação nas redes sociais e uso de serviços públicos digitais.

Um exemplo de sucesso é a dona Juracy Costa, que afirma ter aprendido a navegar na internet há 10 anos graças ao projeto, na época, ela estava com 82 anos. Hoje, aos 92 anos de idade, Juracy conversa com os netos por mensagens de voz no Whatsapp e assiste vídeos no Tik Tok.

“Minha filha me incentivou a fazer o curso para eu não depender dela para ouvir músicas ou saber como fazer umas coisas de artesanato. Fiz e hoje sei colocar minhas ‘musiquinhas’ no Youtube e mandar áudios para meus netos. Gosto muito de ver vídeos no Tik Tok também, para passar o tempo”.

Assim como dona Juracy, Ivoni se sentiu mais confiante e disposta a aprender a mexer no seu novo smartphone. Apesar de ter um certo receio, aproveitou a oportunidade de aprender na oficina de Smartphone, promovida pela UnAPI.

“Me sinto mais segura, sempre com um pouco de medo, e com essa inteligência artificial agora, a gente tem que ter medo mesmo. Mas é muito bom, a gente tem que fazer para aprender, tem que se soltar, tem que ir aprendendo e mexer no celular”.

Existe resistência por parte das pessoas idosas ao se envolver com tecnologia. Muitas vezes por falta de letramento ou até uma insegurança psicológica e social. A coordenadora da UnAPI, conta que nesses casos, os projetos, além de ensinar a lidar com as tecnologias, têm que desenvolver também a autoestima dos participantes.

“A socialização é importantíssima, a gente já teve pessoas idosas que chegaram aqui com quadros de depressão ou medo. Nesses casos, atrelamos também a Oficina de Psicologia que vai tratar um pouco das emoções, e percebemos a transformação deles. Ficam mais abertos a aprender”, defende Monique.

 

Contatos:

Oficina do Smartphone (UnAPI)
Inscrições gratuitas semestrais, presenciais ou por telefone
Avenida Fernando Ferrari, 514 / UFES – Prédio de Departamentos do CCJE
(27) 4009-2592
(27) 99907-0095

 

Navegando na Internet na Melhor Idade (Prodest e Seger)
Inscrições gratuitas, presenciais ou por telefone
Avenida João Batista Parra n.º 465 – Praia do Suá – Vitória /ES – (27)3636-7257
Av. Governador Bley – Ed. Fábio Ruschi 1º andar – 236 – Centro – Vitória/ES – (27)3636-5349

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