O cotidiano de um PCD na Univerdade do Espírito Santo
Aos 39 anos, Josimar Vieira de Amaral desafia barreiras para realizar o sonho da graduação em Jornalismo na UFES. Com paralisia infantil, ele enfrenta diariamente os desafios da acessibilidade e da permanência acadêmica.
Por Bruna Rodrigues e Enzo Bicalho
Em 2019, aos 33 anos, Josimar Vieira de Amaral viu seu maior sonho se tornar realidade: ingressar em uma Universidade Federal. Hoje, aos 39 anos, é estudante de Ciências Contábeis na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e traça novos planos para o futuro, incluindo migrar para o curso de Jornalismo, seu sonho de menino.
Josimar foi diagnosticado com paralisia infantil, ou poliomielite, e enfrentou muitos desafios para acessar a educação, mas nunca abriu mão de estudar. Ele começou os estudos somente aos 10 anos de idade em uma escola municipal do bairro onde morava, em Vista da Serra, na Serra.
Em poucos anos, Josimar conseguiu se formar no ensino fundamental e migrou para uma escola maior, já que onde estudava não havia Ensino Médio. Em 2007, se formou. Ele conta que sempre foi muito dedicado, mantendo uma rotina diária de estudos. Mas o sonho dele não parava por aí. Seu objetivo ainda viria mais de uma década depois.
Foram 12 anos, entre 2007 e 2019. 12 tentativas. Josimar nunca desistiu do objetivo de ingressar em uma Universidade. Estudava sozinho, em casa, pela internet. Nunca teve acesso a um cursinho. Mas insistia em realizar o Enem, até que em 2019, veio a tão sonhada aprovação.
“Desde pequeno, eu tinha o sonho de fazer Jornalismo. Terminei o Ensino Médio e pensei: ‘não vou parar, vou continuar estudando’. Desde então, eu vinha estudando e fazia o Enem, mas não passava: ‘não vou desistir, uma hora eu consigo’. Até que eu fiz e deu certo, consegui passar”, conta Josimar, com um sorriso de realização.
A trajetória
Josimar nasceu em Barra de São Francisco, no interior do Espírito Santo, em 1985. Mudou-se logo cedo para a Grande Vitória, quando tinha um ano de idade, para tratar questões de saúde.
Após o diagnóstico de poliomelite, Josimar se mudou com a mãe, Nilda Teodoria de Almeida, e o pai, Juverci Vieira de Amaral, para a Serra. A mudança representava mais do que apenas um novo endereço: era a esperança de um futuro melhor, com acesso a tratamentos que pudessem ajudá-lo.
Ao longo dos anos, a mãe, dona de casa, se dividia entre os cuidados com Josimar e com o filho mais novo, e o pai trabalhava como pedreiro. Outros parentes também moravam na Serra e serviram como rede de apoio à família.
“Eu estudava de manhã e meu irmão de tarde. Minha mãe sempre me levava e buscava de bicicleta e depois o meu irmão. Ela se revezava entre cuidar de mim e dele. Meu tio que morava perto, sempre que precisava, ele ajudava”, explica Josimar.
Foi nesse contexto que Josimar ingressou no Programa Social de Equoterapia, da Polícia Militar do Espírito Santo. Ele passou sete anos em tratamento e teve avanços importantes, principalmente na coordenação motora, o que lhe proporcionou mais independência e confiança.
O trilhar nos estudos
Josimar sempre foi um aluno dedicado aos estudos e nunca reprovou na escola, apesar das dificuldades em virtude da paralisia. Com essa mesma determinação, chegou ao campus da UFES, onde segue construindo sua trajetória acadêmica. Em um passo de cada vez.
Atualmente, ele cursa Ciências Contábeis, mas já deu os primeiros passos rumo ao grande sonho de cursar Jornalismo. Além das disciplinas de sua graduação, tem se dedicado a matérias do curso de Comunicação, aproximando-se cada vez mais da profissão que sempre desejou seguir.
“A função do jornalismo é prestar um bom serviço à sociedade, levar a sociedade a se desenvolver melhor por meio da informação e transformar a vida das pessoas de alguma forma”.
Mas a vivência de um sonho também impõe desafios. Na universidade, Josimar enfrenta obstáculos que vão além das provas e notas. A locomoção, por exemplo, é uma questão diária. Para acessar as salas de aula e passar pelas escadas, ele conta com o apoio de um colega, que o auxilia nos deslocamentos pelos prédios da instituição.
“A gente vê que aqui é um ajudando o outro, e é assim que a gente vai passando, superando”.
O Núcleo de Acessibilidade da UFES (NAUFES), vinculado à Secretaria de Inclusão Acadêmica e Acessibilidade (Siac/UFES), é um programa que oferece suporte a estudantes com deficiência, com o objetivo de proporcionar melhores condições de permanência no ambiente acadêmico. Josimar é um dos alunos que recebe esse apoio.
“Para cadeirantes, por exemplo, eles disponibilizam um monitor para ajudar. Eles nos buscam no ponto de ônibus, levam até a sala de aula e, depois, nos acompanham de volta quando a aula termina”, completou Josimar, destacando a importância da iniciativa para sua rotina universitária.
A trajetória de Josimar carrega um significado que vai além da própria história. Ele enxerga na educação uma forma de transformação, tanto para a própria vida quanto para a construção de uma sociedade mais inclusiva. O estudante deixa uma mensagem para aqueles que também sonham com um futuro melhor.
“Para as pessoas que têm vontade de estudar, não desista. Continue estudando, a gente sabe que não é fácil, temos muitos desafios, mas a gente sempre tem que seguir em frente e correr atrás daquilo que a gente sonha”, destacou.