Estudantes da UFES enfrentam desafios para conciliar vida acadêmica e parentalidade

Estudantes da UFES enfrentam desafios para conciliar vida acadêmica e parentalidade

Falta de apoio institucional e estrutura adequada agravam a jornada dos estudantes-pais na UFES.

Por Sophia Silva e Lízzie Almeida

Criança participa de ato do Coletivo Parentalidades UFES em defesa de uma universidade mais inclusiva. (Foto: Coletivo Parentalidades UFES).

Conciliar os estudos universitários com a criação de filhos é uma realidade desafiadora para muitos estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A falta de políticas institucionais eficazes, dificuldades no acesso a auxílios e a incompatibilidade entre o calendário acadêmico e as férias escolares das crianças são alguns dos principais obstáculos enfrentados por esses alunos.

A estudante Yasmin Baier compartilha sua experiência como universitária e mãe. Durante a semana, sua filha passa o dia na escola. “Após colocá-la no transporte, vou para a aula e, em seguida, direto para o trabalho. Só volto a estar com ela à noite, quando chego em casa”, relata. Segundo ela, a rotina intensa torna difícil dedicar tempo de qualidade à filha. “Mesmo quando estamos juntas, não pode ser por muito tempo, pois precisamos acordar cedo no dia seguinte.”

Além da falta de tempo, Yasmin destaca diversos desafios que ela e a filha pequena de 4 anos enfrentam no dia-a-dia. Entre os desafios, ela destaca o cansaço, a dificuldade de estar presente na vida da filha durante a semana e a preocupação com imprevistos, como doenças. “Quando ela fica doente, preciso conciliar os compromissos da universidade e do trabalho. Isso é angustiante”, conta.

Apesar das dificuldades, Yasmin afirma que a maternidade não afetou suas escolhas acadêmicas ou profissionais, mas exigiu um planejamento rigoroso. Para manter sua rotina, optou por matricular a filha em uma escola particular em meio período, complementando a jornada com a rede pública. “Foi necessário estender o tempo dela na escola, pois entre faculdade e trabalho eu não conseguiria estar por perto”, destaca.

Nos períodos de férias escolares, quando sua filha fica sem atividades, Yasmin depende do apoio da família e tenta alinhar suas próprias férias acadêmicas com as da criança. “Mas nem sempre é possível, e a falta de estrutura para estudantes com filhos na universidade torna esse período ainda mais desafiador.”

A história de Yasmin reflete a realidade de muitos estudantes-pais da UFES. A ausência de políticas institucionais mais abrangentes e de uma rede de apoio estruturada impacta diretamente a permanência desses alunos na universidade, tornando a inclusão acadêmica um desafio constante.

Programas de auxílio estudantil

Diante dessa realidade, a Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assistência Estudantil (PROPAES) desenvolve iniciativas voltadas para garantir a equidade de oportunidades e a permanência qualificada dos estudantes com filhos. Entre os benefícios oferecidos, destaca-se o Auxílio Educação Infantil, que concede quatro parcelas de R$ 400,00 para cada filho ou menor sob guarda do estudante, desde que tenha até seis anos incompletos. A reportagem entrou em contato com a Pró-Reitoria para comentar sobre essas políticas, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

Para ter acesso ao benefício, os interessados devem aguardar a abertura do edital, que ocorre no início de cada semestre letivo. Os critérios exigidos incluem comprovação de renda per capita de até 1,5 salário mínimo e matrícula ativa em um curso de graduação presencial da UFES. A seleção leva em consideração não apenas a renda, mas também fatores sociais que influenciam a permanência do estudante na universidade.

Esses critérios incluem ser mãe solo, composição e faixa etária do grupo familiar, presença de doenças graves na família, gênero, raça/cor, distância entre residência e campus, necessidades específicas devido a alguma deficiência e trajetória escolar. A pontuação atribuída ao estudante, que varia de zero a mil, influencia diretamente na prioridade e no valor do auxílio recebido.

Prédio da Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assistência Estudantil (PROPAES) da UFES, responsável por iniciativas de apoio à permanência estudantil. (Foto: Acervo UFES).

No entanto, a divulgação desses auxílios ainda é deficiente. Muitos estudantes desconhecem a existência dos benefícios, o que dificulta o acesso a esse suporte essencial. “Não recebo e não fui informada da existência do auxílio”, afirma Yasmin, evidenciando um problema recorrente na comunicação institucional.


Atualmente, o Centro de Educação Infantil (CEI) Criarte, vinculado à UFES, não reserva vagas específicas para filhos de estudantes, professores ou servidores da instituição. O preenchimento das vagas ocorre exclusivamente por meio de sorteio, em ampla concorrência, sem priorização para a comunidade acadêmica. Inicialmente criado para atender exclusivamente os filhos de servidores e estudantes da universidade, o espaço passou por mudanças significativas ao longo dos anos. “Quando foi implantado, o Criarte tinha a função de abrigar as crianças enquanto seus responsáveis trabalhavam ou estudavam na UFES. No entanto, em 2012, com a institucionalização como Centro de Educação Infantil, o regimento foi alterado para incluir a comunidade externa, garantindo uma distribuição igualitária das vagas entre diferentes segmentos”, explica a gestão da unidade.

Em 2022, com a nova Portaria MEC nº 694, o Criarte passou a funcionar como Colégio de Aplicação, garantindo acesso universal às vagas, sem distinção entre membros da comunidade acadêmica e externa. Apesar da qualidade do ensino oferecido, a ampla concorrência no processo seletivo gera desafios para estudantes-pais, que veem na reserva de vagas uma possibilidade de maior segurança e equilíbrio na rotina universitária. Yasmin, por exemplo, nunca tentou uma vaga para sua filha na unidade devido à distância, mas acredita que a destinação de vagas específicas para estudantes da UFES seria um avanço significativo. “Isso ajudaria muito, pois facilitaria a rotina e garantiria mais segurança para todos”, completa ela.

 

Centro de Educação Infantil Criarte, da UFES, oferece educação infantil de qualidade, mas enfrenta desafios de acesso devido à ampla concorrência no processo seletivo. (Foto: CAP Criarte/Divulgação).

A conciliação entre a vida acadêmica e a parentalidade segue sendo um desafio significativo para estudantes da UFES. Embora existam iniciativas de assistência estudantil, a falta de informações acessíveis e de infraestrutura adequada ainda dificulta o dia a dia desses alunos. Medidas como maior divulgação dos auxílios, ampliação das vagas na educação infantil e criação de políticas mais inclusivas são essenciais para garantir que mães e pais universitários possam permanecer e concluir sua formação com qualidade.

 

 

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