Alunos Noturnos: As dificuldades para permanência na universidade
A busca por cursos no período noturno se dá por diversos fatores, sendo o principal deles a possibilidade de conciliar o trabalho e estudos. Outras demandas, como filhos e familiares também influenciam essa escolha.
A menor concorrência e a flexibilidade para realizar atividades durante o dia são atrativos para estes ingressantes no ensino superior. No entanto, na prática, estudar à noite traz desafios que podem comprometer a permanência dos estudantes no campus.
Por Eduarda Guerra e Maria Luísa Berto.
O engenheiro de Petróleo Ivo Porfirio, de 48 anos, está entreos alunos da Ufes que enfrentam a jornada dobrada: estuda e trabalha duante o dia. Ele cursa Administração na UFES, e a escolha do turno noturno se deu pela impossibilidade de estudar durante o dia.
“Era isso ou fazer um curso 100% online”, conta. Trabalhando com gerenciamento de projetos de petróleo no ES, ele relata que a carga de trabalho é pesada e inviabiliza a participação em atividades extracurriculares.
“Participação em atividades acadêmicas fora da sala de aula, sinceramente, no meu caso é nulo, zero mesmo”.
O que dizem as pesquisas
Os dados confirmam essa tendência. De acordo com o último Censo da Educação Superior, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 2023, 54% dos alunos matriculados no ensino superior presencial estudavam no período noturno, o equivalente a 2.735.442 estudantes.
Na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), diversos cursos são oferecidos nesse período, entre eles Administração, Arquivologia, Artes Visuais, Cinema e Audiovisual, Física, Matemática e Pedagogia. Ainda assim, dificuldades cotidianas tornam a rotina dos alunos desafiadora.
O desânimo é frequente entre os estudantes noturnos. Diana Bonjour, graduanda de Biblioteconomia, destaca a rigidez curricular como um dos principais desafios. “Se você reprovar em uma matéria, acaba ficando sem pegar outras nos próximos períodos. Isso cria uma cadeia que pode te prender na universidade por anos”.
Já para Lorena Netto, também estudante de Biblioteconomia, a falta de tempo é um grande obstáculo. “O cansaço, a falta de horário para estudar, descansar e até resolver questões do dia a dia, como consultas médicas ou cuidados pessoais, é bem complicada”.
No sétimo período, ela encara novos desafios com a fase final do curso. “Preciso reduzir minha carga horária de trabalho para fazer o estágio, o que torna tudo mais difícil”.
O que dizem os professores
Entre os docentes, o esforço dos alunos é notável. “Vejo que os alunos que trabalham durante o dia se esforçam para dar conta das atividades, estudam para a prova e, às vezes, até mais do que os que não trabalham”, afirma Eliana Terra, professora de Biblioteconomia.
Ela reconhece que atrasos são comuns devido ao trânsito e aos horários de trabalho e defende flexibilizações. “Tenho uma aluna que trabalha por escala. Quando ela precisa faltar, combinamos atividades no Classroom para que ela não fique prejudicada”.
Além do desgaste físico, outras dificuldades pesam na rotina dos estudantes noturnos: infraestrutura reduzida, horários limitados de bibliotecas e laboratórios, transporte precário, falta de segurança e impossibilidade de participar de projetos de pesquisa e extensão.
Para Ivo Porfirio, algumas mudanças poderiam melhorar a experiência acadêmica dos alunos noturnos. “Os professores precisam entender que o aluno do noturno não é o mesmo ‘aluno profissional’ do diurno, que tem dedicação exclusiva aos estudos. Horários, principalmente de saída mais cedo para pegar ônibus, e trabalhos extraclasse deveriam ser melhor dimensionados para essa realidade”.